Ainda considerada tabu, depressão pós-parto atinge até 20% das mulheres no Brasil
10 de Sep de 2019
Esperada por muitas, angustiante para algumas, a gravidez é um período desafiador. O nascimento de um filho muda a rotina das mulheres, altera os períodos de sono e os reflexos dessas mudanças nem sempre são positivos.
De acordo com a escala de depressão pós-parto de Edimburgo, que consiste em um questionário simples com 10 itens e que foi desenvolvido para identificar mulheres que sofrem do distúrbio, cerca de 20% das brasileiras têm o diagnóstico.
Deste percentual, no entanto, metade sofre calada. “Ainda é um tabu. Essas mulheres ficam com medo ou constrangidas em admitir que estão tristes ou angustiadas em um momento em que todos esperam que só se tenha felicidade. Sendo assim, metade das mulheres que sofrem da doença permanecerão em silêncio, sem diagnóstico ou tratamento”, alerta a ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Infantil Femina, Letícia Bett.
O tabu, inclusive, faz com que uma consulta com psiquiatra sequer seja cogitada. “A depressão pós-parto é um tabu não só nos consultórios, mas na sociedade. As mães se sentem muito culpadas por estarem tristes e por não conseguirem identificar o motivo. Estas pacientes muitas vezes optam por esconderem e negarem seus sentimentos. Penso que os sintomas depressivos devem ser questionados mesmo que a paciente não tenha exposto espontaneamente. Só para se ter uma ideia, no mês passado menos de 1% das pacientes atendidas no consultório foi por motivo de depressão pós-parto”, afirma a psiquiatra Carolina Teixeira, que também atende na Femina.
Fatores
A ginecologista e obstetra Letícia Bett lembra que a gravidez é, biologicamente, uma mudança brusca no organismo feminino. Portanto, os fatores que podem desencadear uma depressão pós-parto vão além da genética, que, claro, também pode ser determinante.
“As variações hormonais durante a gestação estão fortemente ligadas à ocorrência de depressão pós-parto. As taxas hormonais de progesterona e estradiol são extremamente maiores durante a gestação, e ambas, apresentam abrupta redução com a expulsão placentária, levando à hipótese de que um estado de ‘retirada abrupta dos hormônios’ contribua para a ocorrência da doença”, afirma.
A psiquiatra Carolina Teixeira ainda afirma que estudos da área sugerem que mulheres com histórico de depressão têm 50%* mais risco de ter depressão pós-parto e, aquelas que já tiveram depressão pós-parto têm até 70% mais risco de ter novamente.
Assim, as profissionais recomendam maior atenção com pacientes com histórias prévias de transtornos mentais. “Associam-se, ainda, outros fatores que podem acarretar o distúrbio. Tais como puérperas adolescentes, falta de planejamento da gravidez, problemas financeiros ou familiares, pouco suporte social ou a ocorrência de eventos traumáticos durante a gestação”, pontua Letícia.
Há solução
As médicas ponderam, entretanto, que há solução para a depressão pós-parto e que ela passa por auxílio e apoio extremo dos parceiros, amigos e familiares dessas mulheres. “A melhor maneira de familiares ajudarem é desconfiarem dos sintomas e buscarem tratamento. Além disso, auxiliar no cuidado com o bebê e nos serviços domésticos, além de propiciar à paciente maior tempo de sono são fundamentais. E, claro, não julgar e fazer comparações com outras mulheres”, diz a psiquiatra.
Além disso, conforme Carolina, o tratamento pode ser feito tanto com acompanhamento psicológico quanto medicamentoso e, muitas vezes, a combinação dos dois. “Existem antidepressivos seguros que não prejudicam a amamentação e o bebê, que é um medo frequente e muitas vezes o motivo da paciente não ir ao psiquiatra”, completa.
Dessa forma, há cura. “É preciso muito apoio e compreensão. Há cura. É preciso estar presente no pré e no pós-natal, evitando períodos de isolamento da mulher. Ajudar nos cuidados com o recém-nascido. Dar apoio psicológico, frisando sempre ser uma situação comum, difícil, porém passageira”, conclui a ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Infantil Femina, Letícia Bett.
*Os dados foram retirados dos Cadernos de Saúde Pública (CSP), no estudo “Depressão entre puérperas: prevalência e fatores associados”, dos autores Juliana Mano Hartmann; Raul Andrés Mendoza-Sassi e Juraci Almeida Cesar.
Fonte:Assessoria